Espiritualidade na Guiné-Bissau Lamin Seidi Cani (à direita) sabe apreciar a autoridade dos espíritos da floresta, como o Kankoran Fambondi. (© Our Resources) Tronco de jacarandá em Taraba State, Nigéria A organização “Our Resources” luta contra a descarada derrubada de jacarandás. (© Mathias Rittgerott) Mapa da Guiné-Bissau Guiné-Bissau fica na África Ocidental e pertence ao grupo dos países mais pobres do mundo. (© Rettet den Regenwald e.V.)

Um programa de rádio e ritos antigos conservam a floresta de Guiné-Bissau

Na terra natal do ambientalista Lamin Seidi Cani, as florestas estão cheias de espíritos, demônios e criaturas medonhas. No entanto, há males que vêm para bem. A espiritualidade do povo ajuda a conservar a natureza. Além disso, a força profana do rádio também ajuda.

Visão geral do projeto

Tema do projetoPessoas

Objetivo do projeto Descobrir crimes ambientais por meio de um programa de rádio

Atividades Pesquisas para o programa de rádio

Envolvido em uma fantasia de casca de árvore, Kankoran Fambondi, o espírito da floresta, grita por entre a aldeia Simboree, com dois facões em suas mãos. Sua aparição e seus movimentos aparentam ser “bastante amedrontadores”, opina Lamin Seidi Cani. No entanto, é exatamente isso que provoca o bem. Isso porque a casca da árvore Fara Jung serve justamente para proteger a natureza. Quando Kankoran Fambondi enrola uma faixa dessa casca em volta do tronco de uma árvore, ela funciona como um escudo: é proibido feri-la, e derrubá-la é tabu total.

Lamin Seidi Cani sabe apreciar a autoridade dos espíritos da floresta. O fundador da organização Our Resources conhece muito bem o mundo místico dos Mandinka, uma das etnias de Guiné-Bissau. Recentemente ele foi coroado como rei tradicional. Por meio de um procedimento dispendioso, as capacidades e os conhecimentos dele foram examinados pelos mais velhos, incluindo também os de países vizinhos.

“A espiritualidade não conhece fronteiras territoriais”, diz ele durante uma conversa via Skype.

Fé tradicional e animismo são fortemente enraizados no cotidiano, sendo tão diversificado, que, quando Lamin fala disso, mal dá para acompanhá-lo. Mas ele sabe que a espiritualidade, sozinha, não salva a natureza, e em especial, não o faz quando derrubadores ou funcionários públicos corruptos dela não compartilham, procurando nas florestas meramente uma fonte de dinheiro. Daí porque o ativista aposta no poder da informação. Nesse ponto, o seu programa de rádio “Tchintchor na Ronda” exerce um papel-chave.

Os ouvintes, quando percebem a ocorrência de delitos ambientais, telefonam para a redação, relatando-os. É assim que os moradores das aldeias transmitem a informação, quando percebem que alguém está a derrubar jacarandás e outras árvores sem autorização. E eles intervém diretamente, quando se trata de esclarecer ou frustrar a prática de crimes. E é por isso que Lamin deseja que seu programa de rádio faça escola. “Seja no Senegal, na Gâmbia ou na Guiné, por toda a parte onde eu conto isso, vejo que muita gente deseja que também entre eles houvesse algo semelhante”.

Direitos territoriais para a população

Quando se trata da proteção das florestas, o que está no centro é a população do interior - frequentemente indígena. E a proteção costuma dar certo nos lugares em que as pessoas possuem direitos sobre a terra. É por isso que Lamin trabalha na medição das áreas no entorno das aldeias, bem como para que elas sejam registradas nos Registros de Imóveis. Assim é que deve ser garantido, por escrito, que em uma determinada área, somente após aconselhamento com os anciãos, é que as árvores poderiam ter autorização para serem derrubadas, produzir lenha ou permitir-se a caça.

Lamin gostaria, ademais, que a agricultura tivesse uma base mais diversa. Os moradores das aldeias, alguns anos atrás, desistiram de seus campos de arroz porque o arroz importado era mais barato. Agora que o preço subiu, o cultivo seria necessário para garantir o próprio sustento - no entanto, os campos tornaram-se imprestáveis. Em virtude de sua manutenção ser dispendiosa, os pequenos agricultores preferem abrir novas lavouras - e para isso, derrubam florestas. É por conta disso que Our Resources apóia os nativos na tarefa de tornar a cultivar os campos abandonados. Por exemplo, pela aquisição de um trator velho. Para além do cultivo de auto subsistência, o cultivo de hortaliças e frutas deve ser capaz de garantir renda às pessoas.

A espiritualidade e a realidade caminham de mãos-dadas

A conversa com Lamin deixa claro o quão ligada está a proteção das florestas tropicais com as necessidades das populações locais, o quão dependente da agricultura é a sua segurança alimentar e o quanto tudo isso está envolvido com a situação global. É o que mostra, por exemplo, o caso do arroz e da derrubada predatória da madeira do jacarandá.

O engajamento pela conservação da natureza em Guiné-Bissau, portanto precisa estar baseado na realidade e ao mesmo tempo, ser apoiado pela espiritualidade do povo.

Our Resources é parceira de Salve a Floresta desde 2020. O ponto de partida da nossa parceria foi a preocupação relativa ao jacarandá (em inglês, rosenwood). Desde então, a cooperação só cresceu.

“Salve a Floresta” fez mais pela conservação das nossas florestas do que as Nações Unidas! - diz o ambientalista Lamin Seidi Cani. Enquanto o diz, dá risada - mas fala a sério.

O nome do programa de rádio - “Tchintchor na Ronda” - refere-se ao título de uma canção da cantora guineense Dulce Neves. O Tchintchor é um pássaro cujo canto anuncia a chegada da chuva.

Doação na área “Protetores/as da Floresta”

Se quer dar suporte à conservação da floresta de Guiné-Bissau, escolha, por favor, doações na área Protetores/as a floresta

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